Após ameaças do traficante Peixão, igrejas católicas fecham as portas no Complexo de Israel, diz irmandade
06/07/2024
(Foto: Reprodução) Os templos afetados são as paróquias de Santa Edwiges e de Santa Cecília, em Brás de Pina, e Nossa Senhora da Conceição e Justino, em Parada de Lucas. Missas e eventos estão suspensos. Igreja de Santa Edwiges fechada neste sábado (6)
Arquivo pessoal
Não bastasse a proibição de terreiros de matrizes africanas na região em que domina, agora o traficante que se diz evangélico, Álvaro Malaquias Santa Rosa, conhecido como Alvinho ou Peixão, decidiu que as igrejas católicas de Brás de Pina e Parada de Lucas, na Zona Norte do Rio, não poderão mais celebrar missas, casamentos ou batizados. A denúncia é da irmandade das igrejas católicas dessas paróquias.
Peixão está foragido. Contra ele, há, ao menos, 9 mandados de prisão por crimes variados.
Neste final de semana, as missas e eventos, como festas juninas e homilias, foram canceladas.
As igrejas afetadas são as paróquias de Santa Edwiges e de Santa Cecília, em Brás de Pina, e Nossa Senhora da Conceição e Justino, em Parada de Lucas.
Segundo católicos, motoqueiros armados com fuzis, que estariam cumprindo ordens de Peixão, foram, nesta sexta-feira (5), às paróquias e ordenaram que não fossem realizados casamentos ou batizados.
Sem citar o caso, a Paróquia de Santa Edwiges usou suas redes sociais para anunciar o cancelamento de sua festa julina e das missas neste fim de semana.
Mensagem nas redes sociais da Paróquia Santa Edwiges
Reprodução
“Comunicamos que nosso arraiá está suspenso neste fim de semana. Não teremos Santa Missa e atividades em nossa paróquia também. Igreja fechada. Em breve, retornamos com mais informações”, informa a mensagem.
Já nas redes sociais da Paróquia Nossa Senhora da Conceição e Justino, em Parada de Lucas, os administradores escreveram:
"As atividades paroquiais (missas, reuniões, secretaria, etc) estão suspensas até a segunda ordem".
Aviso postado nas redes sociais da Paróquia Nossa Senhora da Conceição e São Justino
Divulgação
De acordo com fiéis, o caso teria sido levado ao comando do 16º BPM (Olaria), responsável pelo policiamento na região, mas nenhuma medida teria sido colocada em prática.
O g1 e a TV Globo procuraram as polícias Militar e Civil e a Arquidiocese do Rio, mas ainda não tiveram retorno.
A história de Alvinho, hoje Peixão
Em meados de 2016, Alvinho estava obcecado com uma ideia: “Libertar o povo da Alta”, como é chamada a comunidade da Cidade Alta.
Durante meses, só pensava num jeito de tomar o controle daquele conjunto habitacional em Cordovil, Zona Norte, vizinho a Parada de Lucas, favela que o traficante já controlava com uma receita básica: assistencialismo e mão de ferro.
No alto da Cidade Alta, na Zona Norte do Rio, os criminosos colocaram uma estrela de Davi
Reprodução
Alvinho, hoje conhecido como Peixão, é o idealizador e chefe do Complexo de Israel, um conjunto de favelas na Zona Norte. Há quase uma década, é Peixão quem dá as cartas na região. Em 2016, ele deixou passar as Olimpíadas do Rio, para não chamar a atenção da polícia, e invadiu a Cidade Alta.
Aos poucos, foi expandindo seus domínios para as favelas vizinhas, como Pica-Pau e, mais recentemente, a Cinco Bocas, formando com Parada de Lucas e Vigário Geral o Complexo de Israel.
Peixão foi criado pela mãe, umbandista, que recebia santo (o Erê) vestida de branco, comia pipoca e doces de criança na esquina da Avenida Brasil.
Hoje adota e prega um discurso de “povo escolhido”. Mandou colocar a Estrela de Davi no topo da Cidade Alta e desenhou as bandeiras de Israel por toda parte. Seu bando passou a ser chamado de Tropa do Aarão.
Peixão mandou tirar a imagem da santa ao lado de campo de futebol na favela Cinco Bocas
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A influência evangélica fez também com que as favelas fossem desenhadas com passagens bíblicas. Na esteira disso, veio a intolerância religiosa. Terreiros foram proibidos e imagens de santa retiradas (veja na imagem acima).
O traficante já foi investigado por ordenar ataques a terreiros de religiões de matriz africana, através da atuação do Bonde de Jesus em Duque de Caxias, onde nasceu. Ele mesmo pregava em uma igreja evangélica no município, como contou o g1 em 2019.
Traficante Peixão frequentando uma igreja
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